O motociclismo off-road tem um leque tão amplo de modalidades que isso acaba gerando confusão em quem não é um iniciado no meio, mas calma que quando você concluir a leitura deste artigo, todas as suas dúvidas chegarão ao fim.
O motociclismo off-road talvez seja a modalidade que mais apresenta vertentes entre todas as demais práticas esportivas em todo o mundo, afinal, qual esporte que você conhece que tem pelo menos 15 diferentes possibilidades de ser praticado?
E estas são apenas as principais! Eu até arrisco dizer que não existe nada em termos esportivos que ofereça um leque tão amplo quanto o motociclismo fora de estrada e neste artigo iremos mostrar e explicar a você as diferentes modalidades encontradas no off-road.
Vamos lá?
Motocross
Talvez o motocross seja modalidade Top of Mind quando o assunto é motociclismo fora de estrada, afinal, é o que traz as imagens mais plásticas e radicais quando pensamos em alguém andando de moto na terra.
Acredita-se que a primeira corrida que daria origem à modalidade aconteceu em 1906, na Inglaterra, quando alguns caras pegaram as “motos” que haviam na época e começaram a dar voltas em um circuito, um querendo ser mais rápido que o outro.
Mas foi somente em 1924 que a palavra “motocross” surgiria, quando da realização de uma corrida em Camberely (Inglaterra). A palavra foi um acrônimo das palavras “motocyclette” (motocicleta, em francês) e cross country.
Nos Estados Unidos o esporte aportou em 1966 quando o sueco campeão mundial Torsten Hallman foi ao país do Tio Sam fazer uma exibição contra alguns pilotos de cross country norte-americanos, no Corriganville Movie Ranch, em Simi Valley (Califórnia).
No ano seguinte, Hallman voltou acompanhado das estrelas Roger De Coster, Joël Robert e Dave Bickers para uma nova exibição.
A semente estava plantada e a partir de então o esporte passou a experimentar um crescimento explosivo entre os jovens dos Anos 70, formando as bases do que se tornaria no futuro a maior potência mundial do esporte.
Outro fator que faz o motocross ser a modalidade mais popular por aqui tem raízes fincadas há mais de 30 anos em nossa história, já que nos Anos 80 e 90, campeonatos como os Hollywood Motocross e Supercross e o Skol Supercross levavam milhares de espectadores às provas; teve até prova realizada dentro do estádio do Pacaembu, em 1989, acredita?
Nomes como os de Nivanor Bernardi, Roberto Boettcher, Álvaro “Paraguaio” Cândido, Pedro Bernardo “Moronguinho” Raimundo, Claudio Teixeira, além dos “brazucas” Rodney Smith, Kenny Keylon e Gene Fireball eram considerados ídolos graças ao televisionamento de várias etapas.
Apesar do esporte ter perdido muito de sua força, ele continua vivo e contando com um campeonato nacional, vários estaduais, além de um sem-número de provas regionais, que continuam fazendo a alegria de milhares de fãs do esporte.
No motocross as provas são disputadas em um circuito com percurso entre 1.500 e 2.300 metros de extensão e que começam com uma largada onde todos os pilotos partem com suas motos alinhadas em um “gate” (estrutura metálica que serve para impedir que algum piloto “queime” a largada).
O “motocross raiz” segue o mandamento que orientou a construção das primeiras pistas: utilizar ao máximo os acidentes do relevo para criar subidas e descidas, além de incluir saltos artificiais que podem ser:
- Mesas: saltos longos, com cerca de 15 metros de distância entre a rampa de lançamento (mais íngreme) e a de recepção (mais suave);
- Kings: grandes saltos triangulares cujo objetivo não é fazer com que os pilotos decolem, mas sim, diminuir sua velocidade em trechos de longas retas;
- Costelas: sequência de pequenos saltos um após o outro, que produzem muita instabilidade na motocicleta;
- Duplos ou triplos: formados por dois ou três saltos intervalados, este tipo de obstáculo é o terror dos pilotos menos experientes ou menos rápidos, já que um erro pode significar bater no cume do salto seguinte, levando à queda certa;
- Step jump: podem ser em subida (step up) ou em descida (step down) e assemelham-se aos duplos ou triplos, mas com a diferença de o gap entre os morros ser menor e um deles ser mais alto que o outro.
Claro que há pistas de motocross que são construídas em terrenos planos em função do tipo de relevo local, mas muitos afirmam que tais pistas não são o verdadeiro “motocrozão”.
Geralmente alinham no gate no máximo 40 pilotos e as provas costumam durar atualmente em torno de 30 minutos mais duas voltas, mas no passado chegavam a durar 45 minutos e mais duas voltas!
Supercross
Tirando a França onde ainda há provas famosas da modalidade como a Paris Bercy, o supercross é uma modalidade que hoje está restrita praticamente aos norte-americanos. Por lá o AMA (**) Supercross é um verdadeiro espetáculo que enche estádios em todas as etapas; geralmente começa no primeiro final de semana após o Ano Novo e vai até maio, quando então, começa o AMA Motocross.
Construídas de forma totalmente artificial, as pistas de supercross são montadas em estádios ou ginásios e por isso, são bem mais curtas que as de motocross: têm de 400 a 1.000 metros de extensão, apresentam um traçado muito mais travado e saltos com rampas de lançamento mais íngremes que as de motocross, projetando os pilotos mais para o alto e em distâncias mais curtas, o que exige mais do trabalho de suspensões.
As seções de costelas também apresentam conjuntos de saltos mais altos, além de outros tipos de saltos que exigem elevada perícia para serem completados.
Aqui no Brasil o supercross teve seu auge entre o final dos anos 80 e o início dos 90 com as provas do Hollywood Supercross e Skol Supercross mas com o fim dos campeonatos, a modalidade nunca mais conseguiu emplacar, uma pena, pois as provas eram e são um verdadeiro show para o público, que por estar numa arquibancada, consegue ter uma visão total da pista e do espetáculo.
Arenacross
O Arenacross surgiu nos Estados Unidos como uma variação do supercross; na verdade, é uma espécie de “mini-supercross”, já que suas pistas são construídas somente em ginásios e assim, medem em torno de 400 metros, apresentando as mesmas variações de saltos em um circuito muito travado.
Aqui no Brasil o Arenacross é uma modalidade que pertence ao empresário Carlinhos Romagnolli, cujo campeonato é realizado há 21 anos, com provas concentradas no estado de São Paulo.
Motocross Freestyle (FMX)
Os pilotos de motocross sempre gostaram de mandar manobras nos saltos durante as corridas, afinal, se o objetivo era buscar adrenalina e conquistar a preferência do público, eles sempre foram um passaporte para tais objetivos. Foi assim que surgiram os whips (entortadas) e os nac-nacs eternizados pela lenda Jeremy McGrath e que ao final, sempre consagraram as vitórias dos pilotos no momento da chegada.
Acontece que alguns caras não queriam saber da rotina pesada de atleta de competição, com seus treinos, obrigações e restrições tanto alimentares quanto de baladas; eles queriam liberdade para curtir suas juventudes, o que significava ir para baladas, pegar mulheres e tomar umas canas de vez em quando e como isso não combinava com a rotina de um atleta de motocross, decidiram tornarem-se free riders e viver movidos à adrenalina dos saltos.
Este movimento ganhou força nos Anos 90 e foi capitaneado por caras como Mike Metzger, Carey Hart, Kenny “Cowboy” Bartram, Brian Deegan, Nate Adams, Ronnie Renner, Robbie Maddison, Clifford Adoptante e a lenda Travis Pastrana. Suas peripécias geraram filmes em VHS como os da série “Terrafirma”, “Wrath Child” e “Crusty of Demons”, mostraram ao mundo o que era “Freestyle Motocross”.
Aqui o objetivo não era ser o mais rápido ou ser mais rápido que o colega, mas sim, fazer a manobra mais irada, a mais difícil e arriscada e quando alguém conseguia, todos vibravam juntos!
Embora a meca mundial do esporte seja os Estados Unidos, pilotos de outros países destacam-se no circuito mundial, como o neo-zelandês Levi Sherwood, o francês Tom Pagès, o alemão Luc Ackermann, o japonês Taka Higashino, o suíço Mat Rebaud, o espanhol Edgard Torronteras e o brasileiro Fred Kyrilos.
Atualmente há um circuito mundial da modalidade organizado pela Red Bull, o Red Bull X-Fighters, com provas realizadas em arenas e ginásios, além dos X-Games, onde o FMX tem lugar de destaque. Por aqui o X-Fighters passou em 2011 com Brasília sendo o palco da perna brasileira.
As provas contam com saltos enormes feitos de terra e também, com rampas lançadoras feitas de metal. Os pilotos têm um tempo para realizar uma sequência de manobras e aqueles que somam mais pontos vão passando de fase até que os melhores fazem a final.
Enduro FIM
Esta modalidade do off-road passou a receber este “sobrenome” FIM a partir de 1990, quando então, a Federação Internacional de Motociclismo decidiu substituir o Campeonato Europeu de Enduro por um que tivesse uma amplitude maior. Além disso, alterou algumas regras e o batizou com este nome.
Os pilotos largam em intervalos de alguns segundos ou mesmo minutos entre si e suas provas são disputadas em circuitos criados dentro de trilhas; trazem trechos contrarrelógio (Enduro Testes), onde o objetivo é ser o mais rápido possível, e deslocamentos, onde o piloto não tem seu tempo aferido, entretanto, ele não pode estourar um limite determinado pelo organizador para cumpri-lo.
Todo o trecho da competição é sinalizado e desta maneira, o piloto não precisa se preocupar com navegação.
Visando tornar as provas de enduro FIM mais atraentes ao público, a partir dos anos 2000 foram criados os Cross Testes, disputados em pistas de motocross e os Extreme Testes, provas com obstáculos mais técnicos e que são transpostos a baixa velocidade, montados em lugares de fácil acompanhamento pelo público.
Enduro de Regularidade
Modalidade existente somente no Brasil, o enduro de regularidade (ou enduro planilhado) surgiu no início dos Anos 80 e tornou-se famoso no universo off-road graças à provas como o Enduro da Independência (realizado desde 1983) e o Enduro das Montanhas, prova que fez grande sucesso nos Anos 90 e que ligava São Paulo a Campos do Jordão.
Como o próprio nome diz, aqui o objetivo não é ser rápido, mas sim, o mais preciso possível na manutenção da média de velocidade determinada pelo organizador da prova e na navegação.
Para isso, as motos contam com uma torre de navegação onde encontram-se road book (peça que recebe a planilha) e computador de bordo, que faz cálculos contínuos determinando se o piloto está adiantado ou atrasado.
Ao longo da prova, os pilotos são obrigados a passar ainda por pontos obrigatórios de checagem, os famosos PCs, que hoje tratam-se de pontos virtuais, “vistos” somente pelo equipamento de apuração que os pilotos carregam na jaqueta ou colete.
Os pilotos largam de forma individual e assim como no enduro FIM, aqui há trechos cronometrados onde é aferido o tempo de cada um, além dos deslocamentos, e vence quem menos pontos perde ao longo da prova.
Hard Enduro
Como o próprio nome diz, o hard enduro é a vertente da modalidade onde impera o “quanto pior melhor”.
Mescla de trial com enduro, as provas são realizadas também em trilhas nas matas, mas com a diferença que além de terem de enfrentar obstáculos bem difíceis, os pilotos ainda precisam navegar, pois são obrigados a passar por pontos específicos (PCs) determinados pelos organizadores, mas apenas um GPS é necessário para conseguir seguir o roteiro.
Os pilotos largam individualmente, em intervalos espaçados de tempo e vence aquele que concluir o circuito em menor tempo e que tenha passado por todos os pontos obrigatórios (PCs); cada PC perdido gera uma punição em tempo para o piloto, fazendo-o cair na classificação final da competição.
Super Enduro
O super enduro é uma mistura do espetáculo do supercross com as dificuldades do hard enduro. As provas são realizadas dentro de estádios/ginásios, ou mesmo ao ar livre e trazem sequências de obstáculos artificiais construídos com manilhas, troncos, caçambas, pedras, carrocerias de carros, além de estruturas feitas com madeiras.
Aqui as provas contam com classificatórias onde os mais rápidos vão para as finais e estas são realizadas em baterias que podem ter de dois a quatro pilotos, que competem entre si, ao mesmo tempo – e vence o mais rápido.
Cross Country (ou GNCC-USA)
O cross country é uma das modalidades menos faladas no mundo do motociclismo fora de estrada, embora seja bem emocionante. Ele é bem parecido com o enduro FIM, afinal, as provas também são disputadas em um circuito na mata, porém, são mais curtos, o que às vezes, torna o número de voltas maior, enquanto que os pilotos largam como no motocross, a partir de um gate.
Aqui o objetivo é acelerar e vence aquele que concluir o trajeto no menor tempo possível.
Rally Cross Country
Sem dúvida alguma, a mais famosa prova de rally cross country do planeta é o Dakar, que antigamente chamava-se Paris-Dakar e surgiu depois que o francês Thierry Sabine ficou perdido no Deserto da Líbia em 1977 e quase morreu de desidratação.
A experiência, em vez de traumatizar o cara, o fez nutrir um encantamento pelo deserto e ele decidiu que iria criar uma prova que saísse da França e cruzasse desertos africanos e foi assim que surgiu o Dakar.
As provas geralmente têm um percurso longo e em linha, ou seja, partem de um lugar e vão terminar em outro e contam com trechos de deslocamento e trechos cronometrados, apresentando PCs pelos quais os pilotos são obrigados a passar.
Ué, mas qual a diferença para o enduro FIM, então? Vamos lá: no enduro FIM os pilotos não precisam planilhar, pois a prova é toda sinalizada;
- No rally cross country os pilotos planilham (navegam) e no enduro, não. Isso torna a pilotagem mais perigosa, pois as velocidades no rally são maiores;
- Como citado, no rally as provas são em linha, enquanto que no enduro FIM são em circuito. Por causa disso, no rally os pilotos acampam e largam no dia seguinte e no enduro, não;
- No rally as provas são longas e realizadas obrigatoriamente ao longo de pelo menos três dias; no enduro, os circuitos são mais curtos (entre 50 km e 80 km) e as provas podem acontecer em apenas um único dia;
- No rally os pilotos muitas vezes precisam encarar etapas Maratona, nas quais ao final de um dia inteiro de corrida, não podem contar com a ajuda dos mecânicos para fazer a manutenção de suas motos; no enduro FIM, só em algumas competições – como os Six Days –, são obrigados a trocarem os pneus sozinhos.
Aqui o objetivo também é ser o mais rápido e o mais preciso possível na navegação.
Rally Baja
O rally baja é uma mistura de cross country com enduro FIM. As provas são realizadas em circuitos sinalizados, ou seja, os pilotos não precisam se preocupar com a navegação, com a diferença que aqui, estes são mais longos (entre 80 e 150 km).
No rally baja as provas também precisam durar pelo menos três dias, entretanto, não há etapas Maratona e pelo fato de as provas largarem e terminarem no mesmo local, os pilotos não precisam acampar e vence aquele que na somatória dos dias, for o mais rápido.
Trial (outdoor e indoor)
O trial talvez seja aquela modalidade mais técnica que existe no motociclismo off-road. Aqui velocidade não é importante, mas sim, a capacidade de o piloto superar obstáculos extremamente difíceis, sem colocar os pés no chão.
Acredita-se que o berço da modalidade foi a Escócia, já que vêm de lá os primeiros registros de algo semelhante em 1910, mas foi somente a partir de 1960 que a prática passou a ganhar mais metodologia e regras mais claras, enquanto que as motos tornaram-se mais específicas para sua prática.
Ao contrário do motocross e do supercross, a meca do trial é a Espanha e não os Estados Unidos e não à tôa que vêm de lá os maiores nomes da modalidade como Adam Raga, Jordi Tarrés e a lenda Toni Bou, que desde 2007 vem se mantendo como o número 1 do mundo, muito embora atletas de outros países também se destaquem e já tenham se destacado no cenário mundial.
O trial divide-se em outdoor e indoor. No primeiro as provas são realizadas em espaços abertos e usam obstáculos naturais como seções a serem vencidas, como cachoeiras, subidas de pedras, erosões, rochas, travessias de troncos, entre outros.
Já no trial indoor, as provas são realizadas em ginásios e estádios e todos os obstáculos são artificiais e têm seções compostas por caçambas, troncos, manilhas, pedras, entre outros.
Supermoto (ou supermotard)
No motociclismo sempre houve a dúvida (ou rixa mesmo), afinal, quem é melhor: o piloto de terra ou de asfalto. Isso sempre gerou debates acalorados em torno do tema mas sem nunca oferecer uma conclusão, foi então que no final dos Anos 70 a emissora de TV norte-americana ABC decidiu lançar um desafio para descobrir quem era o melhor.
Contando com a ajuda de Gavin Stripe, um dos maiores nomes do motociclismo norte-americano, foi criado um circuito misto, com trechos de asfalto e outros de terra com saltos; as motos a serem utilizadas seriam as de motocross, mas equipadas com pneus para asfalto ou de uso misto.
Foram convidados 10 pilotos de motocross, 10 de superbike, 10 de cross country e mais 10 de diversas modalidades. A prova vencida pela lenda norte-americana Steve Wise foi um sucesso e lançou as bases para o supermoto (ou supermotard, como é chamado na Europa).
Até hoje as provas continuam mantendo este mesmo formato, sendo disputadas por 20 pilotos em circuitos fechados, que largam em estilo motovelocidade, ou seja, em filas de dois a quatro competidores.
Trilha
A trilha é a prática mais democrática de todas: não é uma competição, mas sim, lazer. Aqui o objetivo não é vencer ninguém, mas apenas a si mesmo e se divertir com os amigos.
Você pode praticá-la com qualquer motocicleta trail, seja nacional ou importada e as trilhas geralmente estão próximas às residências de onde moram os praticantes, reduzindo custos e tempo de deslocamento.
Como escolher a melhor modalidade off road?
Existem várias modalidades off road disponíveis para quem quer começar a praticar o esporte, e conhecer cada uma delas é importante para que você possa fazer uma boa escolha.
É ideal encontrar aquela que mais te agrada e, claro, se existem locais adequados para a prática próximos da região em que você mora, para que você possa se dedicar cada vez mais ao esporte.
Conhecendo as modalidades off road, é hora de descobrir quanto custa uma moto de trilha.