Balasso Motorsport

Tudo sobre o Vita Racing Hard Enduro!

Prova realizada no interior do Tocantins nasceu do sonho de dois apaixonados pelo hard enduro e tem atraído um número cada vez maior de participantes graças à qualidade de suas trilhas, dos desafios impostos e de sua organização.

Por André Ramos

Fotos: Vinícius Machado/Agência Naadaby Photography

O hard enduro tem se tornado uma febre entre aqueles que defendem a tese do “quanto pior, melhor” no motociclismo fora de estrada mundial, e no Brasil não tem sido diferente. 

Sendo uma das modalidades que mais crescem no país, o esporte vem conquistando adeptos e vendo o número de provas aumentando pelo país e uma das mais elogiadas é o Vita Racing.

Rodolfo Balasso sempre gostou de trilhas difíceis e quando as primeiras imagens sobre provas de hard enduro começaram a chegar no Brasil, por volta de 2013, foi paixão à primeira vista. 

A partir daí ele passou não apenas a buscar andar de forma extrema no fora de estrada, como também decidiu viajar ao exterior para acompanhar as principais provas do cenário mundial, como o Erzberg Rodeo e o Romaniacs, realizados na Áustria e na Romênia, respectivamente.

Tamanho entusiasmo o levou a imaginar junto com seu irmão Rodrigo Balasso, outro apaixonado pelo esporte, se seria possível acontecer uma prova de hard enduro de alto nível fora do eixo Sul-Sudeste do país. 

Lançado o desafio em 2015, ambos passaram a reunir seus conhecimentos e contatos e a investir no projeto, e depois de 3 meses de muito trabalho e dedicação era realizada na cidade de Araguaína a primeira edição do Vita Racing.

Apresentando um prólogo animal e uma trilha com obstáculos e seções muito bem selecionados, foi um sucesso. A partir de então, a fama da prova passou a espalhar-se entre os praticantes, transformando-a rapidamente em um dos mais carismáticos e desejados eventos do hard enduro nacional.

Grandes nomes

Ano após ano, o Vita Racing veio amadurecendo e oferecendo uma experiência ao piloto e ao público cada vez melhor e mais interativa, passando a atrair também pilotos de alto nível, como o tricampeão brasileiro Rígor Rico, piloto oficial Beta; o argentino Cristian “Crispy” Arriegada, membro do esquadrão Orange KTM; e Luís Galin, um dos expoentes do hard enduro do norte do Brasil.

Rodrigo (esq) e Rodolfo Balasso com o bicampeão da prova Rígor Rico ao centro. Foto: @vinicius.foto.marketing

Para realizarem a edição deste ano, os trabalhos começaram em julho e somente se encerraram três meses depois, quando a prova finalmente aconteceu, nos dias 28 e 29 de setembro. 

Cerca de 20 pessoas estiveram envolvidas com a sua organização, levantamento e realização, ao passo que 76 pilotos de diversos estados do país, divididos nas 3 categorias tradicionais (Gold, Silver e Bronze) e mais duas para incluir outros pilotos interessados: Over e Feminina.

No sábado, os pilotos encararam um prólogo com 490 metros, reunindo uma série de obstáculos artificiais que levaram o público ao delírio.

Já no domingo, uma trilha com 50 km, repleta de desafios, separou os homens dos meninos.

Mas os organizadores não pensam somente nos pilotos, e buscam oferecer ao público uma experiência interativa cada vez mais intensa e diferenciada. 

O tanque de lama foi um dos desafios do prólogo deste ano. Foto: @vinicius.foto.marketing

Em 2019 o prólogo contou com um grande tanque de lama, onde os pilotos passavam por uma chuva artificial e por um grande tronco, aumentando as dificuldades e os tombos.

Enquanto isso, veículos 4×4 foram convidados para desafiarem travessias em seções de barro que atraíram a atenção da galera. 

Além disso, uma praça de alimentação com barracas e food trucks ofereciam uma ampla gama de opções gastronômicas aos mais de 5 mil visitantes que compareceram ao evento.

“O Vita Racing traz um desafio natural a mais além dos obstáculos e trilhas: é o seu clima, bem seco e com altas temperaturas. Esses dois fatores, somados à mata fechada levam os pilotos a um nível de cansaço muito alto, tornando a prova ainda mais desafiadora”, revela Rodolfo Balasso.

Mas nem só de enroscos é feita a prova: para dar um refresco, os organizadores tratam sempre de colocar alguns trechos de alta velocidade na prova para refrigerar a galera.  

“Neste ano os pilotos pegaram um trecho de areia bem divertido, onde deu para acelerar bastante e recuperar o fôlego, antes de voltarem para as partes travadas. Isso é legal, pois torna a prova dinâmica”, acrescenta Balasso.

O futuro

Diante do sucesso do Vita Racing, do crescimento no número de praticantes e do fortalecimento do hard enduro no Brasil, é natural que as especulações em torno do Vita Racing tornar-se uma etapa do Brasileiro ou mesmo do Hard Enduro Brasil Series (HEBS) começam a ganhar volume.

No entanto, a prova continua a ser realizada de maneira independente, apesar de algumas conversações já terem acontecido.

Este interesse em torno do Vita Racing mostra que os organizadores estão no caminho certo e que o trabalho vem gerando ressonância no país, e isso é mais um incentivo para fazer a edição de 2020 ainda melhor. 

Para isso, eles já começaram a traçar as linhas que vão nortear o trabalho, que vai concentrar ainda mais esforços na divulgação da prova e na experiência para o público, além de buscar ouvir as opiniões dos pilotos sobre o que gostariam que a prova tivesse. 

Afinal, ninguém sabe mais sobre o espetáculo que as próprias estrelas!

Os campeões

2018

Gold: Rígor Rico 

Silver:  Magno

Bronze: Wanderson Tatu

2019

Gold: Rígor Rico 

Silver:  Warley

Bronze: Igor do Nascimento

Over: Alessandro Sousa

Feminina: Andreia Costa

História do Hard Enduro

O ser humano é movido por desafios: aquilo que torna-se fácil de ser realizado ou alcançado, passa a perder o seu interesse e a não ser mais motivador para nós – e é assim em tudo que fazemos ou que nos cerca.

O off-road sempre foi um terreno fértil para a propagação desta máxima. Afinal, desde quando nele começamos, enfrentamos desafios, que naturalmente vão se tornando cada vez maiores à medida que nossas habilidades vão se consolidando e nos permitindo ousar enfrentar dificuldades maiores.

Foi esta máxima que fez surgir o Rally Paris Dakar, cujo objetivo era levar pilotos de carros e motos a saírem do centro da Europa e cruzarem o temido deserto do Saara no menor tempo possível – isso numa época em que os veículos eram muito limitados em termos de performance.

Foi isso também que fez surgir o hard enduro, derivação do enduro tradicional e no qual o foco está nas trilhas com alto nível de dificuldade e onde muitas vezes o piloto não consegue superá-las sozinho.

Talvez a primeira prova de hard enduro disputada no mundo foi Gilles Lalay Classic, realizada em 1993 em um trecho de 200 km entre as cidades francesas de Limoges e Peyrat-le-Chateau, idealizada pelo vencedor do Dakar de 1992. 

Mas para outros, o surgimento do hard enduro se deu ainda antes, com a realização em 1968 da Roof of Africa, em Lesoto, na África do Sul. Esta prova surgiu quando o engenheiro civil Bob Phillips procurou o Sports Club Car de Johanesburgo sugerindo a criação de uma corrida pela estrada mais difícil que ele já conhecera: a que ele acabara de construir!

Largada do Red Bull Hare Scramble dentro da pedreira austríaca. Foto: Philip Platzer/Red Bull Content Pool

Mas a primeira prova disputada em formato de hard enduro, de fato, aconteceu pela primeira vez na Áustria, em 1995. Batizada de Erzberg Rodeo, a corrida teve sua largada realizada dentro de uma pedreira desativada. 

Partindo em filas de 30 pilotos, a regra era uma só: ser o mais rápido, abrindo a porta para toda sorte de desventuras nas subidas insanas que os pilotos tinham de enfrentar. 

As corridas de sexta e sábado classificavam os 500 melhores para a grande final, ou a Hare Scramble, onde os grandes do hard enduro mundial duelavam em pegas alucinantes pelo entorno da pedreira.

O sucesso ao longo dos anos da prova abriu caminho para que um cara chamado 

Martin Freinademetz, um austríaco radicado na Romênia maluco por adrenalina e esportes radicais, convencesse a gigante fabricante de energéticos Red Bull a abraçar uma prova no meio do nada e que tinha como atrativo, ser a mais difícil e longa já realizada na história.

Josep Garcia tenta vencer o subidão animal do Romaniacs 2019. Foto: Red Bull Content Pool

Assim nascia em 2004 o RedBull Romaniacs, uma corrida voltada àqueles que buscavam por adrenalina e desafios impossíveis – e isso já no prólogo realizado no centro da cidade, cujos obstáculos estavam mais para uma apresentação de circo (sem palhaçadas) do que para uma competição, tamanho o grau de desafio. 

Depois, mais quatro dias de trilhas insanas, durando pelo menos 6 horas em cada dia, cruzando as Montanhas Cárpatos, ao redor de Sibiu.

Hoje, graças à marca de energéticos, o hard enduro tem um circuito mundial, composto pelas duas provas acima, mais, RedBull 111 Megawatt (Belchatow-Polônia), RedBull Sea-to-Sky (Antalya/Kemer-Turquia), e a já citada Roof of Africa (Lesoto-África do Sul). 

Até 2017 o Brasil fazia parte do circuito com a prova RedBull Minas Riders, mas devido a problemas relacionado a licenças ambientais, a prova foi prematuramente cancelada naquele ano, retirando o país dos holofotes internacionais. Recentemente, Portugal entrou no circuito com a RedBull Extreme XL Lagares, realizada na cidade do Porto.

Mas além destas provas, há muitas outras mundialmente famosas como a Hell’s Gate (Toscana-Itália), Hixpania Hard Enduro (Aguilar de Campoo-Espanha), Tough One Extreme (Nantwar Quales-País de Gales), Ales Trem Extreme Enduro (Saint Martin de Valgagues-França) e Tennessee Knock Out Extreme Enduro (Sequatchie-Estados Unidos).

Os melhores do mundo

Graham Jarvis é uma das lendas do hard enduro mundial. Foto: Red Bull Content Pool

Entre os grandes nomes do hard enduro mundial estão: 

  • Graham Jarvis (Inglaterra), 
  • Johnny Walker (Inglaterra), 
  • Billy Bolt (Inglaterra), 
  • Manuel Lettenbichler (Alemanha), 
  • Nathan Watson (Inglaterra), 
  • Josep Garcia (Espanha), 
  • Taddy Blazusiak (Polônia), 
  • Wade Young (África do Sul), 
  • Alfredo Gomez (Espanha), 
  • Mario Roman (Espanha). 

O Brasil fica de fora? De jeito nenhum: apesar da distância para o cenário onde acontecem as grandes provas mundiais, temos excelentes pilotos por aqui, como o Bruno Crivilin, que em 2017 foi campeão da categoria Silver do RedBull Romaniacs; e Rígor Rico, que neste ano foi o primeiro brasileiro a concluir o mesmo Romaniacs na categoria Gold, finalizando na 22a posição.

André Ramos é formado pela UNESP de Bauru e atua como jornalista especializado em motos desde 2003. Fez assessoria de imprensa para a  Federação Paulista de Motociclismo e passou pelas redações das revistas Dirt Action, Motoaction, Pró Moto, além de já ter desenvolvido trabalhos para Webmotors, Revista Riders, Moto Premium e para as marcas Rinaldi, Kawasaki e Polaris, entre outras.

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