Até 10, 15 anos atrás, tornar-se um trilheiro era uma tarefa um pouco complicada, afinal, a limitação quanto à oferta de equipamentos e motocicletas fazia do esporte uma atividade relativamente cara e dessa maneira, poucas pessoas ousavam tornar-se um praticante.
Entretanto, com a consolidação da internet de banda larga em nosso país, com a estabilização de nossa economia e com o lançamento da Honda CRF 230F no segundo semestre de 2006, tudo começou a mudar: a oferta de marcas e modelos de equipamentos de proteção cresceu, assim como o número de lojas e de formas de pagamentos para adquiri-los, enquanto que o surgimento de uma moto específica para a prática do trail, fez com que os custos de manutenção fossem reduzidos, uma vez que esta moto é extremamente resistente.
Com isso, o número de pessoas que foram aderindo ao esporte passou a aumentar bastante e embora não haja uma estatística que revela quanto somos no Brasil, acreditamos que este seja um mercado que experimentou um forte crescimento até 2012, sofrendo com a crise desde então e que, desde 2018, começou a girar o acelerador novamente.
Com isso, muita gente chegou e continua chegando ao esporte, gerando um amplo contingente de iniciantes carregados de dúvidas sobre o que fazer e como encarar as primeiras aceleradas no mundo fora de estrada.
Aqui em nosso blog temos um grande carinho por você, que está começando e com a cabeça repleta de pontos de interrogação, afinal, a gente sabe que todo início é marcado por pedras e enroscos.
Para ajudar você que encontra-se nesta fase, a gente já produziu diversos artigos focados em oferecer dicas valiosas para que você supere os atoleiros das dúvidas e não seja um rôia despreparado e neste aqui vamos trazer mais dicas importantes que devem ser lidas com muita atenção: com certeza, se assimiladas, elas farão com que você seja poupado de cometer erros que poderão fazê-lo desanimar e até mesmo, evitar com que gaste dinheiro atoa ou mesmo sofra um acidente mais sério.
Para isso, fomos trocar ideia com um experiente trilheiro de São Paulo, o Renan Bernardes. O cara faz trilha desde o final dos Anos 80: começou de DT 180 “Cadeira Elétrica”, o que fez dele um grande admirador das dois tempos e um defensor de que, todo mundo deveria começar fazendo trilha nestas motos, já que elas são uma grande escola. Já teve tudo quanto é tipo de moto nacional e importada, competiu em provas de enduro e rally e hoje é proprietário de uma poderosa Honda CRF 450X, que usa para seus rolês no meio do mato.
Bom, se você está começando influenciado pelos amigos, tua jornada inicial estará facilitada, mas mesmo assim, é prudente que leia estas dicas, pois nem sempre as pessoas te falarão tudo, seja por falta de tempo, seja por esquecimento ou por chatice delas mesmo.
Agora, se você está começando por vontade própria, sem ninguém para espelhar-se ou incentivá-lo, então, este artigo chega às tuas mãos em boa hora, pois cada dica aqui será como um atalho que irá poupá-lo de muitos enroscos. E lembre-se: tudo vai dar certo, acredite!
1. Comprando a moto
Se você ainda não comprou a sua moto, está estudando ainda qual a mais adequada para começar, a gente elaborou este artigo aqui com várias orientações que irão esclarecer a sua tomada de decisão. Se também estiver em dúvida sobre a compra de equipamentos de proteção, também trouxemos este aqui, onde falamos, inclusive, sobre a possibilidade de você adquirir de segunda mão.
Preste atenção ao que o Renan recomenda: “o ideal é comprar uma Honda CRF 230 ou uma Yamaha TT-R 230, caso você tenha como ir para a trilha sem precisar de uma carretinha ou picape. Agora, se você tiver que andar pela cidade, recomendo uma Honda XR 200, XRE 300, Lander 250 ou CRF 250L, que são motos de rua e contam com placa”, orienta.
“Pega e vai experimentar. Com estas duas últimas você pode ir rodando para a trilha; basta colocar um par de pneus de cross, uma relação mais curta e pronto: a moto já fica preparada para encarar as trilhas”.
Ele dá ainda mais uma dica. “Evite também, comprar uma moto de cross para fazer trilha. Além destas terem um acerto de motor e relação para terem um comportamento mais explosivo – o que irá dificultar o seu domínio nos enroscos – estas não têm farol e aí, vai que um dia você precise voltar à noite de uma trilha?”.
Mas não saia comprando a primeira moto que vir pela frente. Aqui, o ideal é você encontrar um mecânico de sua confiança e pedir que ele veja a moto com você, ou então, conhecer a procedência da motocicleta.
Caso você não tenha a quem recorrer, terá de assumir o risco de comprar uma moto às cegas, mas algumas dicas podem denunciar o estado da moto e como seu antigo dono a tratava:
- Observe se os parafusos do motor estão muito marcados por chaves. Isso é um sinal de moto que já deu muito trabalho mecânico;
- Motos muito malhadas, com peças e plásticos foscos e riscados, quadro muito riscado, aros amassados, denunciam uso excessivo e desleixo;
- Ligue a moto e veja se está queimando óleo ou fazendo barulho de “metal batendo”. Pode ser um indicativo de motor cansado e precisando ser feito. Claro que se for uma dois tempos, ela vai fumaçar mesmo, mas mesmo assim, atente para eventuais “ruídos estranhos” no motor. Um que denuncia que o motor está com problemas é o famoso ruído de “batendo saia”. Quando o pistão está folgado dentro do cilindro, ele faz um ruído estalado, já que sua parte inferior bate no cilindro ao subir e descer;
- Sempre desconfie de pechinchas; de negócios de China, mantenha-se longe. Não existem milagres. Hoje, uma CRF 230 ou um TT-R 230 usadas, mas em boas condições, estão na faixa dos R$ 6, 7 mil, pelo menos; já uma XR 200 você encontrará em torno dos R$ 4 mil. Uma CRF 250L não se encontra por menos de R$ 17,5 mil, enquanto que uma XRE 300 ou Lander 250 preparadas para trilha e documentadas podem ser compradas a partir de R$ 7.500;
- E jamais compre motos sem documentos ou nota fiscal. Se um dia for parado e a moto “tiver bronca”, você pode ser preso e responder processo por receptação de produto originário de furto/roubo. E aí, terá arrumado sarna para se coçar pelo resto da vida.
Muita gente, por puro orgulho (e nós já falamos sobre isso aqui no blog), começa no esporte já comprando um foguete importado só para pagar de boy, afinal, moto nacional é para pobre. Coitado! Não seja idiota como este tipo aí: seja humilde, comece de baixo e vá aos poucos, evoluindo. Este é o modo mais seguro de você curtir a brincadeira e tornar-se um piloto melhor. Lembre-se que ninguém começa algo já sendo um expert no assunto. O aprendizado é um processo que leva tempo e requer paciência. (Leia abaixo a história que ilustra este caso).
2. Regras básicas
Existem três regras de ouro que JAMAIS devem ser desrespeitadas no universo do fora de estrada:
- Jamais pilote sem estar devidamente equipado ou utilizando equipamentos improvisados, como botas de pedreiro, luvas de tecido, etc;
- Respeite a sua motocicleta e as suas próprias limitações como piloto;
- Nunca vá para a trilha sozinho: se der uma zica na sua moto ou se você se machucar, estará literalmente no mato sem cachorro.
Eu tinha (no passado mesmo) um amigo que desrespeitou as duas primeiras regras e se deu mal. Isso aconteceu há pelo menos 20 anos. Na época, comprou um canhão que atendia pelo nome de Suzuki RMX 250 e embora alertado por nós, foi para a trilha usando nos pés um coturno do Exército, capacete street, luvas meia boca… Ou seja: todo errado.
Não demorou muito para dar m&ˆ%$. No meio da trilha, o bicho foi mandar um salto e por não conhecer exatamente como a moto respondia ao acelerador, deu muita mão, a moto rabeou e projetou-se torta no ar. Na aterrissagem ele foi ejetado da moto e no tombo, fraturou o pé.
Um tombinho bobo, que não teria consequência maior se estivesse com uma bota apropriada. Resultado: além de todo o transtorno e dor para ele, acabou ali o nosso rolê – fora o trampo que deu para tirar esse cara do meio do mato e levá-lo até um hospital com o pé parecendo um rocambole.
Além de teimoso, ele desrespeitou a motocicleta que estava pilotando, com potência muito acima que seu nível de pilotagem poderia domar. Foi só uma questão de tempo para o acidente acontecer.
Se você pretende tornar-se um trilheiro de verdade, saiba que deve começar corretamente e isso passa, obrigatoriamente, pelo uso do mínimo possível para a sua proteção, o que significa: capacete, óculos, luvas, calça, camisa, colete, botas, joelheira e cotoveleira – uma camiseta de dry fit, uma cinta abdominal, uma bermuda com forração genital, meias compridas e uma mochila de hidratação também são muito bem-vindas.
Antigamente, a maioria desses itens era importada e o preço muito alto, mas hoje, não há mais desculpas, pois há lojas que vendem tudo em 10 vezes sem juros, no cartão de crédito.
No começo, joelheiras articuladas e protetores de pescoço são dispensáveis. Veja primeiro se você vai gostar do negócio e deixe para comprá-los quando estiver convicto – e com dinheiro, pois custam caro – para desenvolver-se no esporte.
“Nunca use óculos de proteção, daqueles de serralheiro, pois não protegem da poeira e podem se estilhaçar numa pedrada. Também nunca use a joelheira e a cotoveleira por cima da roupa, pois elas sairão de lugar e não te protegerão”, alerta Renan. “Procure comprar uma bermuda que seja comprida e vá até o joelho, emendando com as meias, pois isso deixará confortável o uso das joelheiras”, ensina.
Compre também uma pochete, pois é sempre bom você levar para a trilha os seguintes e indispensáveis itens:
- ferramentas básicas da moto;
- um par de manicotos e de manetes (embreagem e freio);
- uma emenda de corrente;
- paninho;
- celular;
- documentos pessoais e da moto;
- cartão de débito do banco;
- dinheiro (gasolina, alimentação, água, etc.);
- barras de cereal e gel energético.
Coloque todos os documentos, dinheiro, celular e cartões em saquinhos plásticos do tipo “ziplock” para evitar que se sujem/molhem. “Eu ainda recomendaria ao iniciante levar uma corda de nylon de uns 5 metros, pois por mais cuidadoso que ele tenha sido com a sua moto antes de entrar na trilha, nunca se sabe e isso permitirá que alguém reboque a moto dele”.
3. Equipando sua moto
Se você comprou uma moto de rua (tipo XR 200) para usar na trilha, é bom retirar as pedaleiras traseiras. “Quando você for atravessar uma cava, normalmente seus pés vão para trás e aí, podem se enroscar e quebrar o seu tornozelo. Portanto, retire-as”, previne Renan.
E por falar em pedaleiras, o Renan dá mais uma dica valiosa: “Não vá para a trilha com as pedaleiras do piloto sem a mola que as fazem voltar à sua posição natural. Tenho um amigo que quebrou o pé devido à falta desse item bobo. Nós vínhamos pilotando meio rápido e após passarmos por uma cava onde levantamos os pés, ele ao buscar novamente a pedaleira para apoiar o pé, não a encontrou – porque ela não voltou sozinha – e aí, seu pé bateu no chão e virou para trás. Ele acabou caindo com isso, mas ele quebrou o pé no momento em que o bateu no chão e foi levado para trás”, relembra.
Algo bom de ter instalado na moto também, são os puxadores. Em caso de enrosco, eles ajudam na hora de puxar moto e evitam que as luvas se sujem de barro em atoleiros, puxando a moto pela roda. Basta instalá-los, um na mesa inferior e outro, nos parafusos de fixação do para-lama traseiro. Seus amigos agradecerão.
Protetores de mão. Usar ou não? “Na trilha é imprescindível um protetor de mão. Mas eu já vi um amigo quebrar o pulso numa queda, devido ao protetor ser com ‘alma’ de alumínio; estes eu só recomendo para quem anda de rali ou baja. Portanto, nas minhas motos eu só uso protetor normal, que protege de pedradas e cipós”.
Outra dica que o Renan dá ao iniciante é o investimento em um guidão de alumínio. “Guidões de ferro tendem a entortar mais facilmente numa queda, comprometendo o comportamento da moto e consequentemente, a pilotagem do iniciante. Assim, invista num guidão de alumínio e terá passeios muito mais prazerosos. Na hora de um tombo é que você percebe o investimento dando resultados na prática”, pontua Renan.
Só quem já passou pela experiência de cair logo no início da trilha, ver o guidão totalmente torto e pilotar um dia inteiro assim, sabe do que estamos falando (este que vos escreve já viveu esta situação algumas vezes e garanto: o dia fica zuado, pois a ciclística da moto fica comprometida, você acaba caindo mais e a cada novo tombo, e quanto menos confiante você fica, mais torto vai ficando o guidão).
E o Renan dá um outra dica para quem vai instalar um guidão novo na moto: “Hoje em dia não fixamos mais as manoplas com arame. Pegue uma tinta spray (eu uso preta para ficar mais neutra) e pulverize-a no guidão na área da manopla. Encaixe-a e não mexa mais. No dia seguinte, estará presa e sem perigo de sair caso se molhem, pois a tinta fixará a manopla do guidão”.
E aqui cabe mais uma observação: manoplas para motos de trilha não devem privilegiar o conforto, mas sim, a pegada. Portanto, evite aquelas manoplas largas, espumosas demais. Procure comprar uma voltada a este fim, que são mais finas e aumentam o contato com o guidão, muito embora, motos específicas para trilha como a CRF 230F, a TT-R 230 e todas as importadas, já venham equipadas de fábrica com este tipo de manopla.
Você precisará de uma bolsa para poder alocar tudo isso, seja na sua casa, seja na hora de levar seus equipamentos para a trilha. Portanto, se não tiver em casa uma mala que caiba tudo isso, compre uma. Dê preferência para aquelas com espaço separado para as botas e roupas sujas, que recebem tecido ventilado, que permite a evaporação do suor.
4. Pegue referências
Se liga nesse conselho do Renan: “vá a um local em que os trilheiros da sua região se reúnem numa manhã de sábado ou de domingo para trocar ideias com eles. Pergunte, seja humilde, demonstre que você tem vontade de começar a andar. Você pode se surpreender com a receptividade que poderá receber, mas não esquente se não for bem tratado. Infelizmente, imbecis existem em todos os meios, mas se este for realmente o seu desejo, não desista ao primeiro obstáculo. Trilheiro de verdade é assim: insistente”, orienta Renan.
Ele dá uma outra que pode te ajudar bastante a se informar. “Vá ao Youtube e digite ‘trilheiros da cidade tal’, colocando na barra de buscas o nome da sua cidade ou de outra cidade maior da sua região. Hoje, com a popularização das câmeras onboard, muitos grupos e trail clubes têm canais neste portal. Aí, envie uma mensagem e passe a trocar ideias com eles”, ensina.
Uma outra dica dada pelo nosso expert é ficar atento às oficinas mecânicas. Veja se não há diante dela alguma moto de trilha. Caso veja, pare, entre e converse com o mecânico.
Muitos mecânicos são trilheiros, até mesmo para atraírem clientes para suas oficinas, e são um excelente canal para começar a colher informações, mas procure não se empolgar muito. Seja prudente e vá tateando o terreno, não acreditando em tudo que te falam”, alerta Renan, sabendo o que está dizendo, afinal, com o tempo, você vai perceber que trilheiro e pescador são duas raças que não economizam na lorota.
“Trilha não é lugar para mexer na moto”
O Renan já me repreendeu por isso e escutei ele dar essa bronca em outros caras que por pura preguiça, foram para a trilha com a moto carente de manutenção preventiva e lá, quebraram.
Para evitar esse dissabor que atrapalha o rolê de todo mundo, faça sempre a manutenção preventiva da sua motocicleta e, se você não leva jeito para a coisa ou mesmo não tenha espaço em sua casa, tenha um mecânico a quem confie a manutenção de sua parceira.
“A moto deve chegar na trilha lavada, com a relação lubrificada, com o filtro de ar limpo e lubrificado e com o óleo do motor senão novo, pelo menos com a viscosidade em dia”, sacramenta Renan Bernardes, que ensina: “motos de trilha usam filtro de ar de espuma, que devem ser lavados após cada trilha com detergente e água e após secos, receberem lubrificante específico para evitar que poeira e outros detritos entrem no motor. Se isso acontecer, você corre um sério risco de perder o seu motor”, alerta.
Mesmo quando a moto está totalmente apta para encarar a trilha ela pode vir a sofrer uma pane ou quebrar devido a um tombo ou a um impacto e aí são situações inerentes ao risco, mas deixá-la pifar por não ter limpado um filtro de ar ou por não ter trocado uma relação é ser muito vacilão.
Procure conhecer o mínimo sobre manutenção mecânica: aprenda a emendar uma corrente, a tirar água do motor, a drenar a cuba de um carburador, a trocar uma vela, a substituir um cabo… Converse com os companheiros de trilha ou com seu mecânico sobre os principais problemas que podem acometer a sua moto, como identificá-los e saná-los. Este conhecimento no meio da trilha vale ouro e pode te tirar de um sufoco.
5. No mato
O primeiro mandamento de quem está começando a andar nas trilhas é: seja humilde. Respeite quem está puxando a trilha e não queira mostrar que é “piloto”. “Muita gente que começa a andar na trilha, acha que porque anda bem na cidade, vai apavorar na terra, mas esse é um cara com grande potencial para se machucar e dar trabalho”, explica Renan.
“Nunca, jamais, ultrapasse quem está puxando a trilha. Às vezes, ele está mais lento, justamente porque está pensando por onde ir, ou de olho em quem está mais lento, lá atrás, e assim, não quer deixar ninguém para trás. Portanto, respeite”, orienta.
“Se você o ultrapassar e sair feito uma vaca louca na frente, sem conhecer a trilha e sem saber para onde o grupo vai, poderá se perder, cair numa ribanceira, bater numa porteira, se machucar e dar trabalho para o grupo. Portanto, fique na sua e aproveite para aprender o caminho e apreciar a paisagem”.
Aliás, “tomar conta” de quem está atrás é outro mandamento básico de todo trilheiro. Assim, se ocorre algum imprevisto com quem vem atrás de você, você para e quem vai à sua frente, para também, até que todos parem e não haja dispersão do grupo.
A hora dos enroscos, é uma excelente oportunidade de aprendizado. “Procure ver o que fazem os mais experientes e siga o que eles fazem; ouça o que eles dizem e não tente inventar. Isso só deve ser posto em prática quando você já estiver dominando a sua moto e os conceitos básicos da pilotagem na terra. E antes de desistir, tente. Mesmo que você perceba que não vai conseguir, tente, mostre que quer aprender, que quer superar, mas se perceber que o desafio é muito superior à sua capacidade, não tenha vergonha de pedir a alguém que passe a sua moto e vá a pé”, ensina Renan.
“O aprendizado é gradual e você não vai se tornar o (Taddy) Blazusiak em um único dia. Portanto, amplie seus limites trilha após trilha e não ache que jamais vá superar um obstáculo. O impossível de hoje é o realizável de amanhã”, profetiza Renan.
Cuidado com os seus pés (de novo!). “Eles devem sempre estar com suas pontas voltadas para dentro (em direção ao motor) e na horizontal. Pilotando sentado, devem estar apenas com aquele ossinho da planta sobre as pedaleiras; nas curvas, pilotando em pé, também recomendo essa posição. Para pilotar em pé, nas retas, acelerando, recomendo apoiar o centro do pé (onde fica o refil da bota) na pedaleira fechando as coxas no banco/tanque para ampliar a estabilidade. Pés abertos ou para baixo são um convite à fraturas”, alerta.
Áreas alagadas podem ser outra armadilha. Veja o que os mais experientes fazem para superá-las e procure fazer o mesmo – jamais se meta a besta de passar por outro caminho. Você correrá risco de atolar e o pior, de entrar água no seu motor e dar um trabalhão para voltar a colocá-lo em funcionamento. Se mesmo assim, atolar, mantenha a calma. Desligue a moto e procure a melhor saída. Se não conseguir, peça ajuda, mas não fique fritando a sua embreagem e o seu motor.
6. Pilotagem responsável
Resista à tentação de tirar pegas com os colegas nas estradinhas. Sim, é difícil, mas isso é uma verdadeira armadilha. “Você pode dar de frente com o veículo de um sitiante e sofrer um gravíssimo acidente. Portanto, lugar de acelerar é lá no meio do mato. Quando a rapaziada sair feito doida, faça o seu rolê e seja responsável. Deixe o orgulho em casa e seja maduro e prudente para pilotar sempre. Quem é bom, mostra sua técnica na trilha.
Não seja mais um imbecil a queimar o filme da moto e dos trilheiros junto às populações locais. Siga as regrinhas do trilheiro socialmente responsável:
- Ao atravessar uma porteira e ser o último, pare e feche-a, SEMPRE.
- Jamais corte cercas para entrar numa propriedade. Isso pode gerar graves problemas.
- Ao avistar animais, reduza a velocidade e não faça ruídos excessivos, acelerando a moto feito uma besta. Eles podem se assustar e ir na sua direção, o que pode resultar num atropelamento, tombo, machucados, confusões…
- Ao chegar a vilarejos, faça o mesmo acima. Respeite as populações locais, e pelo amor de Deus: não vá empinar. Deixe para fazer isso na trilha, quando precisar superar um tronco, subir numa pedra… Seja amigável, cumprimente-os e principalmente, seja legal com as crianças. Acene a mão, troque cumprimentos… Às vezes, vê-los passar é seu mais gostoso passatempo, pelo qual esperam a semana toda.
- Evite fumar nas trilhas e se for um fumante inveterado e não conseguir, JAMAIS solte uma bituca acesa na trilha, por razões que o bom senso dispensa explicações. Apague-a e leve-a com você, na pochete, jogando-a no lixo de sua casa.
- Mas não é só bituca que não se deve deixar nas trilhas. Nelas você não deve deixar nada, a não ser rastros. Portanto, recolha todo lixo que produzir e descarte-o na hora e local apropriados.
A trilha, talvez, seja o mais barato dos esportes a motor, mas tem os seus custos, então, é preciso que você esteja ciente de que não bastará apenas ter o capital para comprar a moto e os equipamentos. Tenha ciência de que praticamente após toda trilha, você precisará fazer uma pequena e preventiva manutenção na sua moto, trocar uma peça… e se não souber fazer isso, terá de pagar a um mecânico.
Caso não encontre um parceiro ponta firme, que tenha uma carreta ou uma picape, você terá de providenciar um meio de transportar a sua moto, caso não possa ir com ela direto para as trilhas. E isso tem o seu custo. Hoje uma carretinha nova custa em torno dos R$ 1.500; já uma picape pequena, não sai por menos de R$ 18 mil (mais documentos, IPVA, seguro, etc), em boas condições. Mesmo que você tenha este amigo, compre pelo menos um par de extensores para prender a sua moto.
Sempre que voltar da trilha, trate de lavar sua moto e os seus equipamentos. Para isso, é bom ter, além do espaço, uma lavadora de pressão. Jamais deixe sua moto suja, pois isso detona com a motoca e faz com que ela se deteriore precocemente – o mesmo ocorre com seus equipamentos de proteção.
Uma boa dica para lavar a moto é usar Orquimol, que pode ser encontrado em lojas que vendem produtos de limpeza. Para lavar os equipamentos (calça, camisa, bermuda, cueca, meias) na máquina, use além do detergente, uma ou duas doses de Lysoform, um antibactericida. Já para lavar luvas, colete, joelheiras, cotoveleiras, pochete, etc, não tem jeito: é água, sabão e escova. Já os óculos, lave-o somente com água corrente e detergente líquido, usando o dedos para limpar a lente. Para limpar a tira elástica use a escova, mas atenção: vá com cuidado para não estragá-la.
E por fim, jamais compre peças de origem duvidosa. Sempre procure comprar em lojas e concessionárias; não alimente o comércio de peças ilegais. Um dia, a vítima poderá ser você.
Se você souber aproveitar estas dicas, terá boas chances de adorar estas primeiras experiências e dessa maneira, tornando-se mais um adepto do melhor esporte do mundo.
Quer aprender mais sobre performance off road? Confira nosso artigo 14 técnicas de pilotagem off-road que você precisa saber.
André Ramos é formado pela UNESP de Bauru e atua como jornalista especializado em motos desde 2003. Fez assessoria de imprensa para a Federação Paulista de Motociclismo e passou pelas redações das revistas Dirt Action, Motoaction, Pró Moto, além de já ter desenvolvido trabalhos para Webmotors, Revista Riders, Moto Premium e para as marcas Rinaldi, Kawasaki e Polaris, entre outras.