Escolher uma motocicleta para a prática do trail é uma decisão importante, afinal, este é um momento que deve alinhar três coisas:
- Sua expertise como piloto/trilheiro;
- A potência da motocicleta e;
- Sua disponibilidade financeira.
O resultado deste alinhamento irá ditar muito do que você vai aproveitar na trilha, afinal, se a sua pilotagem estiver muito aquém do que a motocicleta entrega, você irá sofrer para domá-la, além de estar vulnerável a sofrer um acidente e machucar-se.
Por outro lado, se a sua habilidade estiver muito além do que a moto pode proporcionar, certamente você ficará frustrado com a sua parceira, pois nada mais chato do que perceber que a moto que você está pilotando não lhe possibilita fazer aquilo que gostaria.
Entretanto, por vivermos em um país onde as coisas importadas chegam a preços tão elevados, nem sempre é possível chegar ao melhor denominador comum, uma vez que as motos de competição são todas provenientes do exterior e chegam aqui a preços proibitivos para a maior parte dos trilheiros.
Mas antes de entrarmos mais a fundo neste detalhe, vamos começar a nossa análise, partindo das motos nacionais.
Moto nacional ou importada? As melhores opções para iniciantes e experts
Até 2006, quem queria fazer trilha tinha apenas dois caminhos: ou utilizava uma moto trail de rua, adaptada para a trilha, ou canalizava um bom montante de reais e comprava uma moto importada.
Acontece que por estas últimas serem motos voltadas a competição – ou seja, muito “bravas” – muitos não se sentiam à vontade para pilotá-las (sem contar que muitas eram equipadas com motores dois tempos que exigiam um relativo grau de perícia para serem controladas, principalmente nos enroscos) e acabavam começando com motos nacionais.
Este caminho, muitas vezes, era o único possível para muitos trilheiros, que sem grana para comprar uma importada, faziam das motos nacionais adaptadas, sua única maneira de curtirem o off-road.
Isso mudou no final de 2006, quando a Honda lançou a CRF 230F, primeira motocicleta made in Brasil produzida especificamente para o uso no fora de estrada. Pouco tempo depois, em meados de 2007, foi a vez de a Yamaha anunciar o início das vendas dos modelos TT-R 125 e TT-R 230.
Embora sem apresentarem muitas das características técnicas das motos puro-sangue, estas motocicletas caíram no gosto do trilheiro brasileiro em função de sua resistência, facilidade de condução, manutenção relativamente barata e fácil de ser realizada e preço (muito) mais acessível em relação às importadas.
Ainda hoje estas motos permanecem como sendo as preferidas não somente dos iniciantes, mas também, de pilotos mais experientes que não estão preocupados em pilotar em alto nível e querem apenas se divertir no meio do mato com os amigos, afinal, por incrível que pareça, por onde uma importada passa, uma nacional bem cuidada e acertada para o peso do piloto, também passa.
Mas como muitos trilheiros apontavam que a CRF 230F tinha certas limitações, no final de 2018 a Honda anunciou a chegada da CRF 250F, a versão melhorada de sua predecessora.
Além de um motor maior que de sua irmã de 230 cm3, que entrega 20% a mais de potência e de torque, segundo a Honda, a CRF 250F apresenta freio a disco na roda traseira, suspensão dianteira com tubos de 41 mm (37 mm na CRF 230F) e suspensão traseira com sistema Pro-Link, o mesmo que equipa as motos de alta performance.
Claro que seria natural que a 250 custasse mais caro que a 230: atualmente (fev/2020) no site da Honda a moto é anunciada a R$ 15.596, enquanto que a 230F está custando R$ 13.787, ambas sem frete. Já a Yamaha TT-R 230 (a 125 não é mais ofertada) tem preço sugerido de R$ 13.690 mais frete.
Motos importadas que estão ganhando o coração dos trilheiros
No outro extremo desta equação encontram-se as motos importadas. Desenvolvidas para oferecer o máximo em performance, apresentam motores refinados e altamente taxados, capazes de superar os 50 cavalos (!), associados a um conjunto ciclístico que faz você se questionar “por que eu não vivi isso antes?”.
Elas são o caminho natural a ser percorrido por quem sente que as nacionais não cabem mais em sua tocada, entretanto, mesmo quando a moto é fabricada no Brasil como é o caso da KTM, os preços costumam ser muito salgados.
Mas se isso não é problema para você, há muitas opções, entre usadas e zero quilômetro.
Entre estas últimas, a KTM é a única a produzir motos off-road de alto desempenho no Brasil. De sua planta em Manaus (AM) saem os modelos 250 EXC-F, 300 EXC e 350 EXC-F.
A Honda importa os modelos CRF 250RX, 450RX e CRF 450X, enquanto que a Yamaha traz para o Brasil as WR 250R e 450F. Por fim a Husqvarna oferece seis modelos para enduro: TE 250i e 300i (dois tempos) e FE 250, 350, 450 e 501 (quatro tempos).
Infelizmente os preços não são nada amigáveis e a conversa começa na faixa dos R$ 46.000, podendo chegar nos R$ 60.000!
Assim, muitos recorrem ao mercado de usadas, onde os preços são mais atraentes, entretanto, é preciso muita cautela na hora de fechar negócio, afinal, são motos que sofrem uso extremo e elevado desgaste ao longo dos anos.
Cuidados necessários na hora de escolher moto nacional ou importada
Por isso, todo cuidado é pouco. Motos importadas de alta performance são uma delícia, mas podem se transformar em um tiro no pé se a escolha for mal feita.
Motos mal-cuidadas e judiadas pelo uso e pelo tempo são um pesadelo, pois além de estarem sempre precisando de manutenção, acabam esfolando o bolso do trilheiro.
Mesmo as manutenções básicas e regulares como trocas de relação, pastilhas e embreagem já são muito mais caras que as de uma moto nacional de baixa performance, mas além disso, motos de alta performance precisam ter seus motores abertos e retificados a cada determinado número de horas, obrigatoriamente.
A título de ilustração, uma retífica no motor de uma 250F (4 tempos) não sai por menos de R$ 6.000. Um kit de relação da CRF 230F sai em torno de R$ 300, enquanto que de uma CRF 250X não sai por menos que R$ 600 (veja a matéria que fizemos sobre manutenção preventiva).
No mundo das usadas, você encontra motocicletas com preços próximos aos das nacionais de baixa performance zero quilômetro, mas é preciso muita calma nessa hora para não enfiar os pés pelas mãos.
Esteja atento a alguns detalhes que poderão evitar dores de cabeça:
- atenção quanto à procedência da motocicleta; procure adquirir preferencialmente motos de quem você já conhece e sabe como a mantém;
- observe eventuais barulhos metálicos, tanto na hora em que a moto liga, quanto durante seu funcionamento;
- parafusos desgastados denotam que o motor já foi aberto uma ou mais vezes;
- plásticos e adesivos gastos, rasgados ou desbotados sugerem relaxo por parte dos donos anteriores;
- raios quebrados, aros empenados ou tortos, quadros ralados ou amassados na parte inferior apontam para motos que já sofreram muito ao longo de sua vida. O mesmo vale para as curvas de escape das dois tempos;
- aros e raios sem brilho também apontam para pouco cuidado com a manutenção. Isso geralmente acontece com motos que são lavadas com Limpa Baú ou que ficam muito tempo sujas (a acidez presente no barro ataca tais partes);
- coroas e pinhões com os dentes tortos mostram que o dono atual não está muito preocupado com a manutenção deste importante item da motocicleta;
- fuja de motos que apresentam peças não originais ou gambiarras. Esta regra não vale, por exemplo, para partes de alta performance como guidões e coroas Renthal, tampas de motor e embreagem de magnésio, manetes retráteis em alumínio, pedaleiras especiais, radiadores maiores, etc.
- e por último, mas não menos importante, esteja atento à procedência da motocicleta. A única prova da origem legal dela é sua nota fiscal, que deve conter além do número do chassi e do motor, o número da Declaração de Importação (DI), a Chave de Consulta ao Sistema da Receita Federal e a menção “Produto Estrangeiro de Importação Direta”, apontando a forma de entrada no país.
Quais são as outras opções?
Mas se para você uma moto nacional já não dá mais no caldo e uma importada – e sua consequente manutenção – está fora de cogitação, uma opção são as motos intermediárias.
Atualmente existem duas opções no mercado nacional: AJP e MXF.
A primeira é uma marca portuguesa, cujo importador brasileiro oferece por aqui 5 modelos:
- PR4 Enduro;
- PR4 Enduro Pro;
- PR4 Extreme;
- PR5 Enduro;
- PR5 Extreme.
As três primeiras contam com motor refrigerado a ar de 240 cm3, que entrega 20 cv a 8.000 rpm, enquanto que as duas últimas contam com motor de 250 cm3, refrigerado a líquido, que entrega 27,5 cv a 8.000 rpm. O que determina cada variante de modelo são itens como suspensão, rodas, freios, etc.
Os preços começam em torno de R$ 15.000 para a PR4 e R$ 26.000 para a PR5
Já as motos da MXF são asiáticas e na linha de enduro, contam com quatro modelos atualmente:
- 250 RX;
- 250 RXi;
- 300RX;
- 250 TS.
Todas elas contam com motores refrigerados a líquido, suspensões invertidas e aros de alumínio. Na 250 RXi o motor é quatro tempos e alimentado por injeção eletrônica, enquanto que na RX é a carburador. Ambos desenvolvem 28 cv a 9.000 rpm.
A 300RX é alimentada por carburador, entregando 33 cv a 9.000 rpm, enquanto que a 250 TS conta com motor dois tempos, também alimentado por carburador (a potência não é informada pelo fabricante).
Segundo apurado pela reportagem do blog da Balasso Motorsports, a MXF 250 RX tem preço sugerido de R$ 22.490, enquanto que sua irmã alimentada por injeção custa R$ 23.990. Já a 250 TS custa a partir de R$ 24.990 e a 300 RXi tem preço sugerido de R$ 24.990.
Esperamos que tenha curtido este artigo. Se você tiver dúvidas ou sugestões, mande sua mensagem que sempre é um grande prazer trocarmos ideias com você.
Um grande abraço e até nosso próximo encontro.
André Ramos é formado pela UNESP de Bauru e atua como jornalista especializado em motos desde 2003. Fez assessoria de imprensa para a Federação Paulista de Motociclismo e passou pelas redações das revistas Dirt Action, Motoaction, Pró Moto, Moto Adventure, além de já ter desenvolvido trabalhos para Webmotors, Revista Riders, Moto Premium e para as marcas Rinaldi, Kawasaki e Polaris, entre outras.