O matogrossense Gustavo Furlanetto é uma das promessas do Hard Enduro Nacional. Com apenas 23 anos, o atleta é uma das grandes apostas dos fãs da modalidade para nos próximos anos liderar um esporte que vem crescendo exponencialmente ano a ano em praticantes apaixonados e fãs dos pilotos que desafiam trilhas radicais.
Uma história em família
Gustavo Furlanetto nasceu em Colíder, uma cidade do interior do mato grosso, mas viveu sua vida inteira em Cuiabá por isso se considera cuiabano. Sua família é um tanto ligada ao esporte em duas rodas. Seu pai e seu tio sempre foram fãs do motocross, e esse amor acabou sendo um fator influente para um menino que ousaria desafiar montanhas intransponíveis:
“Meu pai sempre foi envolvido, sempre gostou do motocross, e meu irmão mais velho se interessou por volta dos 15 anos. Meu pai comprou uma moto para ele e como eu era um pouco mais novo fui acompanhando a evolução do meu irmão nesse esporte. Meu irmão passou bem rápido pelo motocross, e logo foi para as trilhas. Isso despertou uma vontade em mim e assim que meu irmão trocou de moto, a DT 180 dele virou minha. Foi assim que eu entrei nas trilhas, em um processo bem gradativo e por volta de uns 12 anos de idade”. Conta Furlaneto que também aponta a inflûencia do tio nessa história: “Meu tio era organizador de etapas de motocross.
A ligação de pai e filho buscando trilhas e os morros da região de Cuiabá é um capítulo importante para entender o aspecto psicológico que motiva Gustavo a encarar uma modalidade um tanto solitária e difícil no aspecto técnico e físico.
“Quando comecei andar de moto as trilhas daqui já eram bastante consolidadas. Aqui sempre foi conhecido como uma região muito montanhosa, então os morros principais já eram bem conhecidos. No começo eu tinha uma moto que não era muito confiável e também não sabia andar muito bem. Então no começo eu ia até o Mirantinho. Um morro bem marcante aqui na região. Eu ia até o pé do Mirantinho, e depois ia na garupa do meu pai até o topo desse morro…sempre na garupa. Meu pai era muito ativo nas trilhas. Conseguimos ir até morros bem complicados. Isso fomentou em mim a vontade de fazer trilhas”.
A primeira competição
A espírito de competição no entanto não era algo muito presente na família do piloto. A introdução ao universo das corridas de enduro ocorreu em 2014, quando Furlanetto topou participar de uma prova de Enduro Fim apostando em sua velocidade, mas sem qualquer experiência na modalidade.
“A vontade de competir veio um pouco depois. Eu tinha uns 17 anos quando fui competir pela primeira vez. Sempre tive muita vontade de competir, mas como meu pai e meu irmão não tinham muito esse costume, não foi algo muito fácil inicialmente. A primeira competição foi uma prova de Enduro Fim. Minha característica inicialmente era ser um piloto rápido. Fiquei conhecido pela velocidade. Na região, na época, as provas de regularidade eram o forte. Não tinha muito interesse. E quanto tive a primeira oportunidade de participar de uma prova de Enduro Fim, em uma cidade próxima de Cuiabá, eu coloquei a moto na carretinha e fui com meu pai nessa competição, mas pela falta de experiência acabei cometendo alguns erros e não consegui completar essa prova de enduro fim. Mas foi a primeira oportunidade de competir pra valer.”
A transição para o Hard Enduro
A adaptação e a mudança no estilo de pilotagem foram fatores importantes para Gustavo Furlaneto conseguir virar um piloto referência do Hard Enduro no Brasil. Mas nesse processo o atleta contou com um amigo, e outro jovem piloto que também é conhecido do circuito brasileiro da modalidade:
“Eu era um piloto muito rápido, mas cometia muitos erros. Muitas pessoas me ajudam nesse sentido. No Enduro Fim eu era o mais rápido no treino classificatório, mas na corrida eu fazia alguma coisa e me dava mal. Brincavam muito comigo nesse sentido. E nessa transição para o Hard Enduro sofri muito com isso.
Um cara que me ajudou muito nessa transição, que me apresentou o Hard Enduro, foi o Renan Tonon. Ele sempre foi um cara muito centrado e ao contrário de mim, ele é muito calmo. Então quando começamos a andar junto, por volta de 2015, ele começou a passar um pouco dessa qualidade, dessa calma, das técnicas. E como eu já tinha velocidade, ao aprender esses conceitos e a gostar mais disso, comecei a evoluir mais e me adaptei 100% ao Hard Enduro.”
Condicionamento físico de um atleta de elite
A preparação física é um requisito obrigatório para todo piloto de elite deste esporte. Competidores chegam a enfrentar trilhas de 5 a 6 horas com muita pedra e as vezes puxando as motocicletas no braço literalmente. Furlaneto descobriu que precisaria evoluir fisicamente para ser um dos melhores em 2017 quando desafiou a mítica corrida Boddok Hard Enduro:
“Eu sempre gostei de atividade física, mas não era um exemplo….mas em 2017 teve uma prova que mudou muito minha cabeça. Tudo começou por causa do Boddok Hard Enduro. Nessa prova o Rigor correu, o Crivilin….foi uma prova bem difícil. Eram duas voltas em uma trilha bem travada, bem cansativa. E nessa prova eu desisti na segunda volta por falta de condicionamento físico. E isso foi bem frustrante pra mim. A ponto de eu decidir que no futuro o condicionamento físico nunca mais poderia ser motivo para eu não terminar uma corrida. Desde então eu tenho treinado incansavelmente, porque se isso falhar em uma prova é culpa 100% sua. Eu aumentei muito os treinos físicos em cima da moto também e isso me trouxe bons resultados. Já em 2017 eu fiz uma boa corrida no Minas Riders, e isso foi importante para em 2018 eu conseguir ser campeão brasileiro.”
Um ano frustrante
Em 2018 Gustavo Furlaneto foi campeão brasileiro na categoria Silver. O título, conquistado de maneira um tanto expressiva, projetou o atleta nacionalmente para em 2019 despontar como um dos novos nomes que poderiam quem sabe desafiar o mineiro Rigor Rico, o maior expoente do esporte no Brasil. No entanto, apesar de um excelente começo no Hard Enduro Brasil Series, quando chegou em segundo lugar no Barãomaniacs, o matogrossense sofreu na segunda etapa uma lesão que comprometeu as expectativas em torno de seu desempenho:
“2019 vinha para ser o ano, comecei muito bem. Na prova Barãomaniacs cheguei em segundo. Fui muito bem apesar de saber o que poderia ter feito melhor. Perder pro Rigor na casa dele foi como uma vitória. Mas na segunda etapa eu já fui sentindo dor. Além de cometer um erro no primeiro dia da disputa, eu senti fortes dores. Com um remédio consegui completar e consegui um quarto lugar no geral. Mas a lesão persistiu e me deixou afastado. Além disso tive compromissos da faculdade no dia da etapa Tobata’s Park, quebrei a mão abrindo treinando trilhas para o Cuiabá Hard Enduro. Apesar de ter sido um ano de aprendizado, foi um tanto frustrante.”
Energia renovada
Em 2020, com o patrocínio da Mitas, Gustavo Furlaneto está com o ânimo renovado para crescer e ganhar ainda mais projeção dentro do Hard Enduro Brasil Series. Mas reconhece que a disputa nunca esteve tão acirrada:
“A Gold nunca esteve tão disputada. Temos Rigor, Tiago Mergener Benê Coser, Marco Túlio, Renan Tonon. E apesar do Rigor estar num nível bem alto, acredito que tudo pode acontecer em uma prova. Eu não menosprezo ninguém”.
Quer saber mais sobre hard enduro? Confira nosso artigo Regras off road hard enduro: tudo que você precisa saber para praticar o esporte.
Christian Camilo