O maior expoente do Hard Enduro no Brasil, o piloto Mineiro Rígor Rico, é uma inspiração e referência para diversos pilotos e fãs que começam a se aventurar por trilhas e desafiar morros e montanhas: hoje é tricampeão brasileiro de Hard Enduro.
Tricampeão brasileiro, vice do latino americano e um nome que começa a ser ganhar cada vez mais projeção internacional, Rígor começou muito novo a andar em trilhas. Sua história de vitórias e sucesso na modalidade tem uma forte ligação com o amor de seu pai por motos e montanhas. Um relacionamento que abriu parte dos caminhos da história do Hard Enduro no país.
A história de Rígor Rico
“Minha história começa com meu pai que sempre gostou de moto. Ele começou a andar em 1998 e meu irmão (RIpi Galileu) andava com ele no fim de semana. Foi assim que minha vontade para começar a andar só aumentava. Ficava doido para andar e acho que em 2004 meu pai me deu uma DT 180, uma moto muito nova na época.Começamos a fazer trilhas de sábado e domingo…sempre de fim de semana porque a gente trabalhava até meio dia, tínhamos uma oficina de carro”, conta o piloto.
Rígor Rico e seu irmão Ripi Galileu, levaram um bom tempo para poderem competir. Como era muito novos (entre 14 e 16 anos de idade) os pais não aprovaram a ideia de competição pelos riscos. Mas as trilhas difíceis de fim de semana com o pai criaram as condições para os dois irmãos virarem dois ‘craques’ de enduro. E isso ficaria visível em 2006 quando finalmente disputaram a primeira corrida.
“Em 2006 troquei a moto por uma KDX e a gente correu em uma prova de Enduro Fim em Cocais (distrito de Barão de Cocais). Depois de muito insistirmos com meu pai conseguir competir. Eu corri na estreante e o Ripi na 250. Foi minha primeira corrida, foi também minha primeira vitória. E depois disso nosso pai foi liberando, levando a gente nas competições e a gente nunca parou mais.”
A paixão pela moto
A relação de Rígor Rico com a moto chegou a produzir uma memória fotográfica. O atleta se recorda até mesmo do dia em que andou pela primeira vez:
Eu era muito apaixonado…minha memória mais antiga é de um domingo, uma manhã, um dia chuvoso…eu não tinha moto. Meu pai ia andar de moto e o Ripi estava gripado ou machucado…ele não ia andar, e para minha surpresa meu pai me chamou para andar com ele.
Eu já topei na mesma hora! Saímos pra trilha. Eu até lembro a trilha que fizemos…uma que hoje é extremamente fácil mas na época levamos o dia inteiro para percorrê-la. Meu pai teve que puxar muito a moto. Eu acho que pela minha memória fizemos a trilha ‘cambotinha’ e descemos pela trilha “castelo preto”. É uma trilha muito difícil para aquela época!
Capítulo no Enduro fim
Rígor Rico e seu irmão Ripi Galileu tiveram uma trajetória um tanto vitoriosa na modalidade Enduro Fim. Foram campeões mineiro e colecionaram vitórias no campeonato brasileiro. A experiência foi importante para Rígor descobrir o que significava ser um piloto profissional:
“Em Minas Gerais a gente dominava o Enduro Fim. Mas em 2010 e 2011 passamos uma dificuldade financeira e vendemos praticamente todas as nossas motos e só ficamos com a moto do Riago (irmão mais novo). Eu corria com a moto dele e de um amigo que emprestava. Não corremos o campeonato todo, mas sempre que íamos nas provinhas nós dominávamos…até que em 2012 a Gás Gás me chamou para a equipe. Foi aí que começou essa idéia de competição mais a sério no Enduro Fim. Foi bem legal, ter esse contato de piloto com uma equipe. Fui vice-campeão brasileiro em 2012. Em 2013 o Ripi entrou na equipe, eu consegui ser campeão brasileiro. Andei muito bem, cheguei a participar de uma etapa do mundial de Enduro no Chile e Argentina, corri o X Games. Foi um ano bem completo.
Em 2015 virei um piloto da KTM Orange BH. Andei na categoria E2. Foi meu primeiro ano de piloto profissional. Vivi intensamente a vida de piloto. Fui campeão brasileiro de Enduro Fim, fui campeão mineiro. Cheguei a estourar o joelho mas consegui manter a briga pelo título”, conta Rígor.
Em 2016 o mineiro descobriu o que significava uma prova de Hard Enduro ao disputar o Red Bull Minas Rider, etapa do circuito mundial da modalidade. A experiência foi transformadora para os dois irmãos que após conquistarem um excelente resultado na corrida, sabiam que algo havia mudado no espírito de competição e desafio:
“O Hard Enduro mudou a minha vida com o Minas Riders. Corri naquele ano o brasileiro Enduro Fim com uma 250, lembro que peguei dengue…fiquei de fora de uma prova do calendário e a prova seguinte já era o Red Bull Minas Riders. Nós fomos enfrentar a prova de Hard Enduro teoricamente sem saber muito bem o que íamos encontrar. Nunca tínhamos feito uma corrida de Hard Enduro. Por mais que a gente andasse em Barão de Cocais, nas trilhas difíceis, a gente não fazia ideia de como era uma etapa, não tínhamos tanta técnica como hoje…e essa experiência mudou minha vida. Eu e Ripi sofremos, mas ganhamos. Eu cheguei em primeiro e o Ripi em segundo. ‘Isso mudou nossa chave’. Depois dessa corrida eu não queria mais correr Enduro fim. Eu só queria abrir trilha difícil. Fui só buscando trilhas semelhantes para melhorar…mas em 2016 eu também resolvi fazer uma cirurgia no joelho o que me deixou 6 meses parado, afastado da moto. Foi nessa época que o Ripi dominou todo o circuito nacional de Hard Enduro. Apesar de não existir oficialmente o campeonato brasileiro na época, existiam as provas: O King off the jungle, o Bodoc,o Night Track. Meu irmão foi o primeiro vencedor dessas provas que surgiram e fortaleceram a ideia do campeoanto brasileiro.
No ano seguinte fomos para a equipe Sherco. Em 2017 corri todas essas provas e fui o primeiro campeão brasileiro de Hard da historia, e venci os outros dois anos na sequência: 2018 e 2019
. Foi uma trajetória muito legal”.
Ano da evolução
Rígor Rico viveu um dilema em 2017. Era um atleta de grande projeção no Enduro Fim, uma modalidade consolidada na época no Brasil, mas queria disputar provas de Hard Enduro. Esse conflito o dividiu em dois esportes e é considerado pelo piloto uma fase de transição. Por isso ano de 2018 acabou sendo um marco para o atleta, pela decisão de deixar o Enduro Fim e se jogar na paixão pelo Hard:
“O ano da evolução mesmo ocorreu em 2018. Corri atrás de patrocinadores, foi difícil tentar mostrar que a dedicação nessa nova modalidade ia dar certo. Foi o ano que foquei totalmente no Hard Enduro. Esse ano foi o divisor de águas”, conta Rígor Rico que hoje consegue ver como foi acertadas suas escolhas profissionais e parceria que construiu nessa trajetória:
Cheguei num ponto de amadurecimento na carreira onde ser piloto é muito mais do que só vencer uma corrida. A gente entrega para o patrocinador coisas fora das pistas. Isso é parte do sucesso. Não adianta ser o primeiro colocado mas ser um cara que não sabe conversar, não tem humildade. Não se conecta com seu público, com seu patrocinador. Todo ano estamos tentando buscar formas melhores de representar nossos patrocinadores.Chegamos num nível de excelência, depois de muito trabalho. Agora muitas empresas nos buscam e foi isso que aconteceu com a KTM. Ela nos buscou. E nós sempre estamos construindo amizades e parcerias duradouras. Para você ter uma ideia é meu nono ano andando com pneus Rinaldi. A BMS já estamos em quatros anos de parceria o mesmo com a Mobil/Pacalub…então quando a gente agrega um patrocinador, dificilmente a gente perde essa parceria. O público do off-road hoje se interessa pelo Rigor Rico e eu tento corresponder passando muita informação, dicas, dou cursos como o Rigor Rico Training. Eu agradeço essa confiança do público e dos patrocinadores na minha equipe e nos nosso pilotos.”
Ìdolos e inspirações
Pilotos brasileiros e estrangeiros estão entre os ídolos do bicampeão brasileiro de Hard Enduro:
“Eu sempre tive grandes ídolos. O Felipe Zanol me deu muita inspiração na época do enduro fim. Principalmente pela dedicação. O sonho do meu pai era que eu entrasse na equipe do Zanol. Quando eu era mais novo ainda gostava do Sandro Hoffmann,. Nielsen Bueno também foi muito importante pra mim, me inspirei muito no estilo dele. São todos amigos mas quando falamos especificamente de Hard Enduro não tem uma referência nacional. Então nesse contexto minha grande inspiração e o Graham Jarvis, o Paul Bolton e o Mario Roman”, revela o atleta expondo como em cada fase de sua vida um piloto diferente foi importante para o desenvolvimento de seu próprio potencial.
Rígor Rico atualmente é o piloto da KTM Brasil e sua evolução, ano a ano, nos leva a crer que em breve, seu nome estará os melhores do Hard Enduro no mundo.
Quer saber mais sobre o esporte? Confira nosso artigo Regras off road hard enduro: tudo que você precisa saber para praticar o esporte.
Christian Camilo